A explosão das apostas no Brasil ocorre em ritmo acelerado, arriscando não apenas o bolso, mas também a saúde mental e social de milhões de pessoas. Desde a legalização parcial e o fortalecimento das plataformas online, o setor registrou aumentos expressivos no número de empresas operando, no volume de dinheiro envolvido e no público participante.
Esse crescimento alimenta comportamentos problemáticos que se assemelham a outras dependências químicas, levando a prejuízos financeiros, desgastes nos relacionamentos e e agravamento de quadros de ansiedade e depressão. Embora ainda não exista uma política pública efetiva para lidar com a ludopatia (é o nome que se dá ao vício em jogos), existem diversos serviços que oferecem caminhos para quem busca ajuda.
A seguir, vamos entender melhor sobre o crescimento nas apostas no Brasil, os sinais do vício, seus impactos e as formas de buscar apoio e dicas práticas para quem deseja controlar ou evitar o problema.
Crescimento das apostas no Brasil
De acordo com a CNN, o mercado de apostas online saltou de 26 para 216 empresas entre 2021 e abril de 2024, um aumento de 734,6%. E esse crescimento decorre, em grande parte, da aprovação da Medida Provisória 846/2018, convertida na Lei 13.756/2018, que autorizou as bets a operar no país e estabeleceu prazos claros para a regulamentação do setor.
Além disso, a chegada da pandemia de COVID-19 intensificou essa expansão ao reduzir as opções de lazer presenciais, levando muitos brasileiros a buscar entretenimento pela internet. A popularização de meios de pagamento instantâneo, como o PIX, facilitou depósitos e apostas em tempo real, tornando o processo muito mais ágil e acessível.
Vale dizer também que as inserções massivas em transmissões esportivas e patrocínios a grandes clubes de futebol aumentaram a visibilidade das marcas de apostas e reforçaram o vínculo entre futebol e jogos de azar. Os influenciadores digitais também ajudaram a inflar esse mercado. Com as famosas “publis”, muitos deles aparecem jogando e faturando bastante dinheiro, o que acaba passando a impressão de ser um dinheiro fácil ou uma renda extra sem riscos de perdas.
Outra questão muito forte em relação ao crescimento das apostas no Brasil é a insegurança financeira que a população enfrenta. Em um cenário em que prover até mesmo o básico fica mais difícil a cada dia, muitas pessoas acabam buscando alternativas vendidas como “fáceis” para ganhar dinheiro.
Vício
Os principais sinais de vício em apostas são:
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Tolerância: sente necessidade de apostar valores cada vez maiores para obter a mesma emoção inicial, sinal típico de dependência de substâncias e comportamentos.
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Abstinência: fica irritado, agitado ou ansioso quando tenta reduzir ou interromper o jogo.
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Perda de controle: faz várias tentativas frustradas de parar ou diminuir, mas não consegue cumprir a própria meta.
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Preocupação obsessiva: pensa constantemente em apostas, planeja novas jogadas e revê resultados passados em vez de dedicar-se a outras atividades.
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Uso como fuga: recorre ao jogo para escapar de sentimentos de culpa, ansiedade ou tristeza, reforçando o ciclo vicioso.
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Mentiras e ocultação: esconde o tempo e o dinheiro gastos, inventa desculpas e oculta extratos bancários para não ser questionado.
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Prejuízos financeiros graves: persiste em apostar mesmo após grandes perdas e acumula dívidas, comprometendo o orçamento familiar.
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Negligência de responsabilidades: abandona tarefas do trabalho, estudos ou compromissos familiares para dedicar-se ao jogo.
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Impacto na saúde mental: apresenta sintomas de depressão, insônia e culpa excessiva.
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Isolamento social: afasta-se de amigos e familiares, reduz interesses em hobbies e evita eventos em que não possa apostar.
Se você ou alguém próximo reconhecer esses sinais, procure ajuda especializada o quanto antes: médicos psiquiatras, psicólogos, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), grupos de apoio como Jogadores Anônimos e serviços de saúde mental. A intervenção precoce aumenta muito as chances de recuperação.
O impacto financeiro das apostas
O impacto financeiro das apostas atinge diretamente o bolso das famílias brasileiras e pressiona a economia do país. Quando pessoas destinaram parte de sua renda a jogos de azar, elas reduziram recursos disponíveis para pagar contas essenciais, como alimentação e moradia, e aumentaram o nível de endividamento pessoal e familiar. Muitas vezes, o apostador busca recuperar perdas com novas apostas, entrando num ciclo de perdas crescentes que compromete cartões de crédito e empréstimos pessoais.
Além das finanças domésticas, o desvio de gastos para plataformas de apostas diminui o consumo em setores tradicionalmente fortes, como comércio varejista e serviços, enfraquecendo a circulação de dinheiro na economia local. As contas públicas também sofrem impacto: quanto maior o endividamento das famílias, maior a demanda por programas sociais e serviços de apoio a quem enfrenta dificuldades financeiras, o que pressiona orçamentos municipais e estaduais.
Dicas para prevenção e controle
A maior forma de se proteger contra as apostas é evitar o acesso às plataformas. Atualmente, existem algumas extensões para navegadores, softwares e aplicativos que bloqueiam o acesso às casas de apostas. Eles podem ser de grande ajuda.
Além disso, uma boa ideia é buscar outras formas de diversão para o seu dia a dia, principalmente se esses hobbies não incluírem acesso a dispositivos eletrônicos que te façam querer apostar. Passe mais tempo com amigos, família e evite locais e situações que possam te fazer a recorrer a esse hábito.
Outra dica é se educar financeiramente. Invista o seu dinheiro em cursos ou leituras sobre finanças pessoais para entender melhor os riscos dessas apostas e gerir melhor os seus recursos.
Abordar o perigo das apostas exige ação imediata: legislar com rigor, qualificar a assistência em saúde e promover educação financeira. Se você ou alguém próximo sentir que perdeu o controle sobre o jogo, procure ajuda o quanto antes. A mudança começa com um primeiro passo firme em direção ao equilíbrio.
Todas as informações presentes neste e em outros artigos Áppoca podem passar por mudanças ao longo do tempo. Verifique atualizações com as instituições e empresas mencionadas.
Referências:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/
https://correiobraziliense.com.br/
https://portalarquivos.saude.gov.br/
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